de Éric-Emmanuel Schmitt


Versão cénica e encenação: João Paulo Janicas

Nota do encenador

“Óscar e a Senhora Cor de Rosa” conta uma história de verdadeira amizade: entre um rapazinho de 10 anos, que está internado num hospital, onde vive com outras crianças suas amigas, e uma senhora, já de uma certa idade, que passa parte do seu tempo a fazer companhia aos doentes. Nada de especial até aqui… não fora o facto de a medicina já não ter esperança para Óscar… E, portanto, tanto aquele menino, como todos à sua volta (tal como nós outras tantas vezes na vida real), perguntam: “como é que é possível?”, “porquê?”, “que sentido tem?” o sofrimento e a morte de um rapazinho de 10 anos… E “onde encontrar coragem para continuar a vida, amanhã?”.
Será que precisamos de alguma espécie de deus para enfrentar a realidade do sofrimento, da doença, da morte? Por nós, procurámos fazê-lo, nesta peça, através do deus… do teatro. Dizem que falar do que nos faz sofrer, como representar o que desconhecemos ou brincar com o que nos assusta, nos deixa mais “leves”, talvez mais preparados, decerto menos sós “quando o cagaço vier”. Acreditamos nisto. Porque quando fazemos assim, estamos com os outros. É isso que nos ensina a Senhora Cor de Rosa.
Neste projeto com os nossos juniores, agarrámos uma história difícil e um tema tabu. Achamos que não é em silêncio ou a sós que podemos enfrentar o que nos faz sofrer ou que nos tornamos mais humanos. A história de vida do pequeno Óscar com a sua amiga Avó Rosa é um hino de humanidade, uma chamada de atenção radical para a importância de bem viver, da coragem, da autenticidade e da escolha.
A Avó Rosa guia Óscar na descoberta dos rostos do “outro” – sejam eles Deus, ela mesma, as outras crianças ou os restantes adultos. Através da Avó Rosa, Óscar encontra as faces da transcendência, do amor, do companheirismo, dos afetos, da diferença que os outros lhe oferecem. Óscar consegue descobrir um sentido perante o absurdo? Conseguimos nós? Não sei… Foi o brilho do olhar e um sentido humano para esse olhar que procurámos nos nossos jovens artistas; que com eles fomos descobrir em outras crianças e jovens internados no Hospital Pediátrico de Coimbra; que dirigimos ao deus do teatro, na renovada oração no final de cada ensaio…

Sobre a Bonifrates Júnior
A Bonifrates é uma cooperativa de teatro com 36 anos de atividades. Em 2006, iniciou o projeto Bonifrates-júnior, tendo apresentado as peças “Bonecos e bonecas”, de Luís Coquard, “Palhaço Arco-íris”, de Ricardo Rodriguez, ambas encenadas por João Maria André, e “Eu, Tu, Ele, Nós, Vós, Eles”, de Sérgio Godinho, com encenação de Eurídice Rocha. Esta é a quarta criação, a primeira de uma nova geração de juniores.

Sobre o autor
Éric-Emmanuel Schmitt, nascido em França em 1960, é um escritor e dramaturgo contemporâneo. A partir de 1991, com La Nuit de Valognes, começa a publicar teatro. Depois, dedica-se também à novela e ao romance (La Secte des égoïstes, em 1995; O Evangelho Segundo Pilatos, em 2000; A Parte do Outro, em 2001). As suas obras estão traduzidas em 44 línguas e as suas peças são encenadas em mais de 50 países. Entre os prémios que recebeu contam-se o prestigiado prémio Goncourt de romance, vários Molière e ainda o Grande Prémio de Teatro da Academia Francesa. Em 1997, inicia um ciclo de narrativas sobre as religiões, o Ciclo do Invisível, mais tarde adaptadas para peças de teatro (Milarepa, em 1997, sobre o Budismo; O Senhor Ibrahim e as Flores do Corão, em 1999, sobre o Islão; L’Enfant de Noé, em 2004, sobre o Judaísmo). O livro Óscar e a Senhora Cor-de-Rosa, tendo como tema o Cristianismo, surge em 2003.