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Dom Juan (1998)

No confronto com os clássicos fica-se quase sempre a perder. Os ganhos – que também os há – traduzem-se numa inquieta necessidade de os continuar a descobrir. É um lucro por vezes pessoal e nem sempre facilmente entendível por quem assiste a um espectáculo.

Depois surge sempre as vozes cépticas, disponíveis para do alto da sua ‘competência’ crítica (que é o que mais por aí se vê) logo se apressam a dizer: “O quê? Moliére? Dom Juan? Só com um grande elenco. É preciso um extraordinário naipe de actores”. Pois claro que sim.

O presente espectáculo é, desde logo, um desafio ao grupo de trabalho da Cooperativa. Quinze actores, todos sem a pretensão de protagonismos fáceis, mas unidos na vontade de fazer o melhor possível.

É também um desafio no confronto com a mais irregular das peças de Moliére, mas por todos assinalada como obra-prima cuja actualidade procurámos evidenciar. Mas, confessemo-lo, escolher uma linha de abertura deste extraordinário texto não foi fácil.

A obra de arte não se explica. A nossa proposta aí fica sujeita ao favor ou desfavor público. A honestidade dos processos a que recorremos procura evidenciar a dupla vertente que percorre o texto de Molière – a serenidade da denúncia a par do gozo das arlequinadas – e ao actualizá-lo julgamos nunca ter optado pela concessão ao fácil. Mas igualmente, muitas outras soluções possíveis foram limitadas pelos meios, sobretudo técnicos, de que pudemos dispor. Não veja o espectador nestas palavras qualquer desculpa ou alibi. Apenas o necessário para enquadrar um espectáculo feito sem facturas a pagar.

No ano em que a Cooperativa Bonifrates atinge a sua maior idade, o encontro com o texto de Molière permitiu, por entre uma serena inquietude, revitalizar o núcleo dos que procuram este espaço para fazer teatro sem a pretensão de brilharem a qualquer preço nas fáceis luzes das ribaltas postiças.

Tão verdade como dois e dois serem quatro e quatro e quatro serem oito. Não é Senhor Dom Juan?

    José Oliveira Barata