2013
As Alegres Comadres de Windsor

de William Shakespeare

Adaptação e encenação: João Maria André

Nota do encenador

Este texto de Shakespeare é uma peça que antecipa, na sua construção e no seu jogo de caracteres, as comédias de Molière e que opera uma visão satírica e crítica sobre aqueles que procuram tirar partido da condição feminina para realizar outros intentos e se promoverem económica ou socialmente, ao mesmo tempo que ridiculariza os maridos que, desconfiando permanentemente das mulheres, fazem do ciúme a arma da sua conduta e caem no ridículo pelos excessos que assim são levados a cometer. Uma série de teias se urdem, pois, ao longo da acção, em que vão caindo os mais convencidos e os que mais subalternizam as mulheres em função dos seus próprios interesses. Assim, como motivos cuja atualidade é incontornável, contam-se a crise económica e financeira que desencadeia comportamentos de aproveitamento da pretensa fragilidade das mulheres e a resposta que elas conseguem encontrar para fazer face ao oportunismo, à desfaçatez e ao sentimento de posse de quem as pretende dominar. Acrescenta-se a este motivo a forma como os pais estabelecem o futuro matrimonial das jovens, sem ter em conta os seus sentimentos e afetos e as suas autênticas e internas inclinações e opções. Nestas teias e na caça que lhes anda associada se inspira a encenação, a cenografia e a direção de atores. Comédia de equívocos e de enganos, continua, pois, profundamente atual pela sua ironia e pela sua mordacidade, reforçada aqui pela contenção das interpretações em que se procura evitar o burlesco e a caricatura grossa para densificar as personagens na sua interioridade e na sua energia proteiforme
Mais uma vez Shakespeare aparece aqui como o grande mestre do teatro e até, é necessário dizê-lo, do teatro dentro do teatro. Porque se é de teatro puro aquilo de que aqui se trata, é também, e por isso mesmo, de teatro dentro do teatro, onde todos representam: representa Falstaff o argumento por ele congeminado e o argumento que outros constroem para o transformar em veado da floresta de Windsor, representam as comadres o seu argumento para tramarem Falstaff, representa Ford as ilusões do seu ciúme e o papel de Brook para as alimentar e enganar Falstaff, representam o clérigo, as criadas e a jovem o papel de fadas, elfos e gnomos e até o público representa o papel dos habitantes de Windsor. Teatro da vida, na vida do teatro: é esta a grande lição de Shakespeare. É por isso que da sua obra não podemos fazer um pretexto para um “teatro do aborrecimento mortal” (Peter Brook), mas sim um motivo para o teatro vivo dentro da própria vida. Ou seja, para, como atores e espetadores, celebrarmos a festa da vida, sabendo que rirmo-nos de nós próprios é, afinal, a melhor forma de nos divertirmos.

Motivação
A Cooperativa Bonifrates tem pautado a escolha do seu repertório por uma preocupação que permite identificá-la com um projeto em que o teatro é assumido como um exercício de cidadania. Coerente com esse princípio, privilegia peças em que problemáticas sociais, com incidência no mundo contemporâneo e na sociedade que nos rodeia, aparecem presentes de uma forma incisiva. Muitas vezes essa opção tem encontrado a sua concretização em autores contemporâneos ou em criações coletivas em torno de temas de incontornável atualidade. Outras vezes, consciente de que um clássico é alguém que nunca deixa de nos dizer coisas novas e sempre interpelantes, voltou-se para autores como Garrett, António José da Silva ou Molière.
Shakespeare, no entanto, nunca foi contemplado nestes mais de trinta anos da nossa existência. Entendemos, por isso, que era chegada a altura de nos aproximarmos desse grande dramaturgo, ousando a encenação de uma das suas obras.
Dentro da identidade da Cooperativa Bonifrates, As alegres comadres de Windsor pareceu-nos uma escolha natural. Trata-se, com efeito, de uma peça em que a problemática social, longe de estar ausente, constitui uma das suas marcas distintivas. Por outro lado, é abordada num registo de comédia, o que torna mais acessível a entrada no universo shakespeariano.

Ficha Técnica

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    Texto: William Shakespeare
    Adaptação, dramaturgia e encenação: João Maria André sobre versão portuguesa de Francisco Ribeiro (Ribeirinho)
    Cenografia e figurinos: Filipa Malva
    Marionetas – Delphim Miranda
    Música: João Loio
    Desenho de luz: Nuno Patinho
    Apoio à movimentação de marionetas: Patrick Murys
    Cartaz e Programa: Ana Biscaia
    Fotografia de cena: Mariana Gomes
    Assistente de cena: Maria José Almeida
    Operadores de luz: Nuno Patinho e João Janicas
    Operadores de som: Hugo Oliveira, João Afonso Cardoso e Jonnas Castro
    Caracterização: Andreia Pena
    Penteados: Carlos Gago/Ilídio Design
    Carpintaria de Cena: Inácio Trindade
    Costureira: Ilintina Marques
    e ainda o apoio de Amílcar Cardoso e João Curto

    Elenco
    Adérito Araújo
    Cristina Janicas
    Eurídice Rocha
    Francisco Paz
    João Prata
    José Castela
    Maria José Almeida
    Maria Manuel Almeida
    Mariana Alves
    José Nelas
    Pedro Cardoso
    Rui Damasceno
    Vítor Carvalho

    Produção da Cooperativa Bonifrates
    Grupo subsidiado por Câmara Municipal de Coimbra

    Apoios
    Ilídio Design Cabeleireiros
    Diário As Beiras
    Diário de Coimbra
    A Cabra – Jornal Universitário de Coimbra
    RUC
    RDP Centro
    ESEC TV

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