Origem
A proposta estética dos recitais de ocupação que a Bonifrates tem experimentado em vários edifícios da cidade situa-se na fronteira entre o dizer da poesia e a encenação do texto poético. Nessa fronteira, é o espaço onde o espectáculo acontece que indica as coordenadas das opções dramatúrgicas, cénicas e da encenação. Por outro lado, ao espectador é feito o convite para, guiado pela poesia e pelos atores, percorrer fisicamente os lugares, qual ativista de ocupação de um espaço à procura de ser habitado.
Sobre o filme
O projeto do DVD-livro “Natais de Torga” foi produzido pela Bonifrates, ao longo de 2013, em parceria com a Câmara Municipal de Coimbra, na sequência do espectáculo-recital de ocupação, estreado em dezembro de 2011, na Casa-Museu Miguel Torga.
O DVD-livro “Natais de Torga” é um objeto integral que, por um lado, reúne alguns dos muitos textos escritos por Miguel Torga sobre o Natal e nos natais por si vividos e sentidos ao longo de uma vida, por outro, apresenta uma leitura encenada e filmada daqueles textos no espaço da Casa-Museu Miguel Torga e, por fim, propõe também um roteiro de visita a este espaço através do olhar do visitante-câmara que a percorre.
Assim, apesar de associar à intenção documental uma dimensão quase-ficcional, o DVD-livro “Natais de Torga” é absolutamente devedor dos textos do autor, que são a sua raiz e o seu fundamento, e do património da Casa-Museu, que a cidade de Coimbra deve saber valorizar e amar.
E tudo isto com a finalidade de dar um contributo para a renovação da leitura dos poemas e das prosas do escritor, não só pensando no público que já o conhece, mas sobretudo tendo como destinatários os novos leitores, os alunos e os visitantes forasteiros.
Um visitante percorre os diferentes espaços da casa de Miguel Torga em Coimbra. Em cada divisão, assiste a fragmentos dos natais vividos por Torga ao longo da sua vida, através das vozes dos seus leitores, das suas personagens e dos seus fantasmas.
A casa é um lugar onde se escrevem outros lugares e o tempo deles. Lugares e tempos a que já não é possível regressar; mas de que, também, nunca se partiu completamente. A escrita de Natal de Miguel Torga repete os gestos iniciais do nascimento e da morte como uma liturgia ou um pesadelo.