Pelos labirintos do desejo… Espaços fragmentados, geométricos como um tabuleiro de xadrez, mas labirínticos como a teia de uma aranha.
Identidades multiplicadas, dispersas, em que o real e o virtual evoluem ordenadamente à medida dos sonhos, dos desejos, dos pesadelos, das frustrações, dos apetites sexuais sussurrados em personagens da banda desenhada, dos contos infantis, dos jardins da memória.
Corredores de hotéis, paredes transparentes na sua opacidade, onde o ouvido ou o olhar se deleitam num voyeurismo de que todo o espectador se transforma em cúmplice.
E o prazer que se quantifica, a regra e a esquadro, com conta, peso e medida, em centímetros e em euros, em horas, minutos e segundos, em frequências orgásmicas, em tempo de erecção, em séries de artefactos descartáveis, na potência das suas performances, na musculatura dos gigolôs, no número de clientes, e em olímpicos records…
A cinzento, a preto e branco ou a cores? Com que cores filmam os nossos sonhos?
Microcosmos (des)coloridos das vidas reais e das fantasias virtuais…
Até que um dia a incerteza começa a insinuar-se nas ideias feitas, nos lugares certos, na ordem estabelecida; as fronteiras diluem-se e os espaços cruzam-se, intersectam-se, baralham-se: as camas não são as mesmas? Não é o mesmo o sexo? Não é o mesmo o sujeito dos afectos, ainda que na sua múltipla identidade? E se a cliente se transforma em amante? Se um serviço de duas horas desperta o desejo de uma vida em conjunto? Se o guarda-costas de um gigolô acende os seus afectos e, no labirinto dos desejos, descobre novos rostos para o seu desejo sexual? Homossexualidade? Heterossexualidade? Bissexualidade? Transsexualidade?
“Tentei enterrar tudo o que tinha a ver com o casamento e acontece que o meu prostituto salvador, o meu anjo do outro mundo, sofre das mesmas misérias que todos os mortais.” (Capuchinho)
Nestes microcosmos fechados ou em circulação permanente, em que tudo se mede e tudo se descarta, é possível voltar a inventar a felicidade? É possível ainda acabar as histórias como acabavam quase todas as histórias da nossa infância (“casaram, tiveram muitos filhos e viveram felizes para sempre”)? Quem “salva” quem? Quem “liberta” quem? E será que há ainda lugar para a “salvação” e para a “liberdade”?
Mas o tempo também se mede. O tempo também se paga. O tempo também se…. Trrrimmmm… Está, Golden Man! Aguarde um pouco, por favor… O programa segue dentro de momentos.
João Maria André