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Cromos (2002)

O que é um cromo? Um retrato a cores de uma vida a preto e branco...

O nosso quotidiano é um álbum de cromos. Por ele passam as criaturas da nossa infância e as (também) criaturas da idade adulta. Por ele passam os fantasmas que fomos e os nossos próprios fantasmas. Nele nos descobrimos. E com ele rimos do que fomos e somos, e também do que nem sempre temos a coragem de dizer na primeira pessoa do presente ou na primeira pessoa do passado. Mas é sempre na primeira pessoa que rimos.

Cromos é um espetáculo sobre os cromos que somos, sem querermos ser. Um espetáculo que se dobra na imagem deformada dos espelhos em que os vemos, na moldura a preto e branco que os circunscreve, no riso às vezes perverso e pervertido que nos e os sacode.

Todos somos, à nossa maneira, os cromos do nosso riso: os pais dos filhos, os filhos dos pais, e também as mães e os filhos e as filhas da mãe...

Quando o riso é um soco, o teatro pode ainda ser uma arma e o palco uma arena em que as gargalhadas lutam pelo protagonismo de que os sonhos parecem ter já desistido. Mas se não desistirmos de rir, mesmo de nós próprios, talvez consigamos a força que nos falta para sermos o que ainda não somos.

    João Maria André